quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Mergulhos

Em vez de tentar escapar de

certas lembranças, o melhor

é mergulhar nelas e voltar

à tona com menos

desespero e mais sabedoria.





Mandaste-me calar. Calei-me. Agora desenrasca-te. Arranca de mim todas as palavras que eu ainda tenho por dizer. És capaz de conter esta chuva de letras húmidas? Podar os versos que na alma crescem, a pele que alastra, e o coração que pulsa trazendo a tona nomes, cores, amores, lugares, ares de mim, de ti? Não me bastam repetições excessivas do quotidiano. Preciso beber de nós, desta mistura explosiva [linhas, entrelinhas, tu e tuas facetas, promessas, dores, enigmas...].


Mente. Qual irreverente. No verso quase acabado, no calor de quase 40º, na chuva que respira ansiosa, no caos estampado, suavemente, no fim do poema...instalas-te. Aqui. No inevitável abismo da escrita. No timbre de cada letra, a melodia de um conto dos nossos desencontros. Nossa paixão não passa de uma fábula alimentada por nós. Infiéis. Um veredicto oposto, agora, seria venire contra factum proprium. Assumo.



Assim, como se assina um acordo irónico de responsabilidade pessoal, me divorcio de ti. Viro a página mas, não lacro o livro.






É que o amor é essencialmente perecível e na hora que nasce começa a morrer. Só os começos são bons. Há então um delírio, um entusiasmo, um bocadinho do céu. Mas depois!...Seria pois necessário estar sempre a começar, para poder sempre sentir?









Se eu pudesse, seria mais sensata, mas uma força nova arrasta-me contra a minha vontade, e o desejo. Atrai-me a uma direcção, e a razão, a outra: vejo e aprovo o melhor, mas sigo o pior.













Há tantas coisas que é só pra perder

E há outras tantas que é só pra esquecer

(Xutos e Pontapés)







Cheguei a casa mais cedo. Doem-me o pescoço e os pés. Queria-te o cheiro, o sorriso, a palavra roçada no suor de uma tarde perdida em sexo sem noção, inesperado e louco. Percebo que ou te tenho em migalhas...ou não te tenho. Simples assim. Parece loucura, mas nenhuma loucura é inofensiva, e me assusto com o que me vem a mente ( a vontade doida de me deixar penetrar por ti, de implorar que me fodas sem limites, de esperar ansiosa pelo jorrar do teu prazer dentro de mim). Acho que neste momento saber de ti já me bastava. Mas canso-me facilmente de esperas inúteis...talvez estes desencontros sejam apenas um sinal parvo que algum deus se lembrou de me mandar para que as lamparinas do meu juízo se acendam e me façam parar de ficar aqui expectante, quase uma mendiga sem eufemismo com o sangue fervendo e arrefecendo na esperança que do nada apareças e digas que és meu, mesmo não sendo. Nunca fui boa a gerir saudades. Quem sabe se te deixar ir como se tudo não tivesse sido apenas um mal entendido cósmico, não volte a mastigar a normalidade dos meus dias de forma simples em que emoções a flor da pele e ânsias de fogo são apenas...prosas.









Queimo o incenso que exorciza a saudade e evapora as memórias. Fogueira mansa que se espalha pela casa e pela alma, dança adocicada que me escorrega pelo ventre, que me despe e me contorna com mãos invisíveis os sonhos sonhados em linhos de luxúria. Alucinação que inunda o ser e se deixa escorrer por grutas com mel e inebria meu corpo com aromas e essências que não saciam mas acalmam a correnteza do meu desassossego.



Não sei se de mim te lembras, se me entendes, se de algum modo me sentes nesta distância enfeitiçada que nos separa os destinos mas, onde o desejo é inegável, imutável e embriagante. Sinto apenas que em mim tua pulsação continua acelerada, driblando a falta de oxigénio e a acidez da língua que se molha em outra boca mas que é contra a saudade dos meus mamilos erectos que repousa. Sabes? Ainda te sinto.





A noite, a muito caiu e minhas margens, embora tranquilas e livres ainda esperam entreabertas pelo ritual mágico em que tu és eu e, eu sou tu. Dançantes pecadores, amantes secretos, escravos do tempo e da espera. O incenso finda... e a magia também.


Esta, é aquela estranha hora em que te sinto colado a flor da minha pele, com a boca húmida procurando no braille dos meus sentidos o caminho certo onde teu beijo se vai esmagar nos lábios meus.

Se procura...

Perdi uma porção de alma por ai: Carente, cor de vento, viciada em tempestades, enfeitiçada, entorpecida de lágrimas com excesso de sal, abstracta e mascarada de lua cheia cor de sangue. Se alguém encontra-la, faxavor tratar com carinho mas de modo algum devolver!  



Implora,ajoelha-te e reza-me                        

Como-te o corpo e a alma

Serei comandante e tripulante de todos teus sentires. Dona e senhora. Vou despir-te a alma como nenhuma antes o fez. Desflorar o silêncio e engolir teus medos e desejos que ainda vivem de umas e outras esperas... Meus dedos e minha língua vão tecer teias com teus arrepios e assim...seminua, impura e irreal vou deixar teus pecados se desfazerem em minha vulva húmida, obscena e orvalhada pelo toque da dureza do teu querer.

Bebo-te.

A pele.

As palavras.

Quero tudo de ti, a fonte da tua insensatez incendeia-me, cria em mim asas e perfumes de cores por criar e ruas por ladrilhar...

Em ti, pedinte infame...o pecado da gula será oração e penitencia.

Em ti...comer será acto de sobrevivência

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