domingo, 24 de outubro de 2010

Ninguém Entende ...


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Estou cansada de ser vilipendiada, incompreendida e descartada
Quem diz que me entende nunca quis saber
Aquele menino foi internado numa clínica
Dizem que por falta de atenção dos amigos, das lembranças
Dos sonhos que se configuram tristes e inertes
Como uma ampulheta imóvel, não se mexe, não se move, não trabalha.
E Clarisse está trancada no banheiro
E faz marcas no seu corpo com seu pequeno canivete
Deitada no canto, seus tornozelos sangram
E a dor é menor do que parece
Quando ela se corta ela se esquece
Que é impossível ter da vida calma e força

Viver em dor, o que ninguém entende
Tentar ser forte a todo e cada amanhecer.
Uma de suas amigas já se foi
Quando mais uma ocorrência policial
Ninguém entende, não me olhe assim
Com este semblante de bom-samaritano
Cumprindo o seu dever, como eu se fosse doente
Como se toda essa dor fosse diferente, ou inexistente
Nada existe pra mim, não tente
Você não sabe e não entende
E quando os antidepressivos e os calmantes não fazem mais efeito
Clarisse sabe que a loucura está presente
E sente a essência estranha do que é a morte
Mas esse vazio ela conhece muito bem
De quando em quando é um novo tratamento
Mas o mundo continua sempre o mesmo
O medo de voltar pra casa à noite
A falta de esperança e o tormento
De saber que nada é justo e pouco é certo
E que estamos destruindo o futuro
E que a maldade anda sempre aqui por perto
A violência e a injustiça que existe
Contra todas as meninas e mulheres
Um mundo onde a verdade é o avesso
E a alegria já não tem mais endereço
Clarisse está trancada no seu quarto
Com seus discos e seus livros, seu cansaço
Eu sou um pássaro
Me trancam na gaiola
E esperam que eu cante como antes
Eu sou um pássaro
Me trancam na gaiola
Mas um dia eu consigo existir e vou voar pelo caminho mais bonito...
Mell Castro
Ninguém entende...

4 comentários:

  1. Um interessante “desfiar”, esse poema-queixa de uma Clarisse ora trancada no banheiro, ora no quarto, pássaro prisioneiro do vilipêndio social, cansada, incompreendida, mas principalmente descartada. Quase me sento para conversar com ela, mas talvez eu parecesse apenas mais um pretenso bom-samaritano, pois já não é possível acreditar em ninguém. E pensar que essa alienação nos cerca por todos os lados da cidade, seja qual for a cidade, especialmente as que chamamos de grande.
    Belo texto, Melícia!!!
    Um abraço carinhoso
    Lello

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  2. Melicia,
    Desejo a você um feliz Natal e um Ano de 2011 maravilhoso para você! Que você continue sendo essa pessoa especial e diferenciada!
    Um beijo carinhoso!
    Lello

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  3. Querida... tens asas, VOA!... irás além do infinito!


    Beijos,
    AL

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  4. Fiquei bastante lisonjeada com suas palavras... Ótimo saber que está gostando. Também me identifico bastante com o que escreve[risos]

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